quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Desabafo de um eleitor

Em Primeiro de Janeiro de 2009 para quem se dedica a promoção da cidadania, começa o trabalho para eleições municipais de 2012. As eleições devem ser conseqüência não do trabalho realizado próximo ao pleito, mas de todo o trabalho que será realizado fora dele! Isto significa que se pretendemos mudar alguma coisa a curto prazo precisamos trabalhar agora, imediatamente e sem descanso para a meta mais curta possível: 4 anos.

Desistimos então das próximas eleições? Não de modo algum; embora apelos não substituam nosso trabalho cotidiano com cidadania, calar-se adianta menos ainda. Por isso, nós do ReCivitas estamos enviando esse alerta a todos os partidos políticos.

Desabafo de um Eleitor

Não há nada mais demeritório para a democracia, e mais frustrante no exercício do voto que ter de escolher, entre o Coisa-Ruim e o Menos-Pior. Isto quando não somos obrigados a escolher entre o candidato com a ficha menos suja ou que ainda não se envolveu em nenhuma falcatrua, ainda...

Poucas coisas são tão perniciosas à democracia quanto se ver obrigados a assistir uma eleição onde o debate político das idéias sai e a luta livre na lama entra. Quem é o mais corrupto? Quem é o menos sujo? Dossiê pra lá, Mensalão pra cá...

De fato se queremos elevar o nível das campanhas eleitorais e quiçá das gestões públicas o trabalho começa já, ou melhor nunca pára e portanto já estamos no meio do caminho para a escolha mais importante do país: a Presidência da República. Esperar que as mudanças venham por elas mesmas, é tão inútil quanto esperar que elas venham dos próprios políticos, por isso esse apelo vai para as bases partidárias: a pilastra mestra dos candidatos.

Políticos, vejam bem: políticos não bandidos, porque político desonesto é bandido não político. Políticos de verdade há apenas de dois tipos: o mais comum, em esmagadora maioria, é o dos que apenas representam e sustentam um grupo (que nem sempre é o mesmo que o elegeu). Dentre esses os menos ruins são aqueles cujos atos pelos menos são guiados pela opinião pública e não por interesses outros.

O outro tipo que de tão raro deveria ter ONG protetora (e não estou brincando quando digo que deveríamos proteger essa espécie em extinção), são os políticos que possuem caro até mesmo fora dos círculos de poder: Princípios. Sim, aquela coisa que guia os atos das pessoas que não agem meramente de acordo com interesses legítimos (ou ilegítimos) de grupos, aprovação pública, ou pura e simples satisfação do ego; pessoas que não tem medo de sustentar ideais, até mesmo de serem ridicularizados por tê-los; pessoas sem medo de levantar bandeiras (algumas já esquecidas) e dar a cara para bater, em nome de idéias e ideais. Não é, portanto, de se estranhar que onde bandido é considerado uma terceira classe de políticos, que aqueles que tem a coragem de defender seus princípios sejam classificados como ingênuos. Defender princípios e ideais como:  Ética, transparência, justiça distributiva, cidadania e  democracia num ambiente destes é como pregar o evangelho no puteiro, ou te chamam de louco ou te expulsam de baixo de porrada.

Será que também estou sendo muito ingênuo por esperar nas próximas eleições poder escolher entre políticos de verdade: pessoas de reputação ilibada, comprometidas com ideais, com propostas concretas e sobretudo com a coragem de falar das coisas importantes para todos nós, mesmo quando nem todos queremos ouvir? Será que é sonhar demais ter candidatos a Presidência da República que tenham o que deveria ser condição primeira para todo político: a vocação para a vida pública?

Embora espécimes raros eles existem sim, e não são privilégios de um único partido; há pelo menos um cada partido, podem ter certeza disto. E para que estes e não os "outros" sejam os escolhidos precisamos de democracia e transparência dentro dos próprios partidos, ou seja, que deixem as bases decidir, pois triste retrocesso político será o enfraquecimento das instituições para o fortalecimento de nomes.

Nossa democracia, que caminhava a largos passos para o fortalecimento dos partidos, volta à carga com o quê existe de mais retrogrado em política: o populismo. Até mesmo no que se refere a partidos de renome começamos recentemente a ouvir as expressões tais como lulistas, serristas... Notem que até bem pouco tempo atrás mesmo o Lula sendo o Lula, seus militantes nunca foram chamados de lulistas, mas petistas, assim como dentro do PSDB seus membros eram antes de "istas" tucanos.
Ruim para a democracia pior ainda para os partidos que de representantes de classes e ideais correm o riscos de se tornar o que as legendas partidárias sempre foram no país trampolim eleitoral de nomes. E que os Petistas que já foram considerados e se consideraram paradigma de verdadeiro partido político não percam o pé, enterrem definitivamente os mortos, aloprados e puxa-sacos e, por favor me coloquem nomes com história de serviços prestados ao país, e não abençoados políticos. Em suma deixem as bases escolherem, e que o sistema de prévias seja adotado por todos os partidos.

Será que os EUA teriam o OBAMA presidente se não houvesse lá as prévias partidárias? Se o maior patrimônio de um país é o seu povo e não seus governantes, o maior patrimônio de um partido é a sua militância, que ela indique e escolha os seus nomes. Porque depois pra nós aqui que somos apenas eleitores e não militantes, nós que não podemos dizer nas urnas "esses não, queremos outros", não adianta chorar, nem votar em branco ou nulo, quando os nomes forem apresentados e os marqueteiros tocarem a tornar palatável os intragáveis, a nós escolhermos caberá apenas escolher entre o Coisa- Ruim e o Menos-Pior porque a eleição já foi nivelada por baixo.

Não somos cidadão apenas pelo direito ao voto, somos pelo direito a participar do poder, ainda que indiretamente pelos nossos representantes. A cidadania se processa não apenas no direito de votar e ser votado, mas no exercício de representar e ser representado. Ou seja, é sempre como antes e não como depois que esta a força do voto.

Em tempo, por favor, foi-se o tempo que berrar ou falar grosso era símbolo de coragem política, estamos de olho na biografia política principalmente de quem tem uma. Coragem política não se mede por bravata, mas por propostas, realizações e sobretudo, quando parlamentares, por seu voto no Legislativo. Que vocês militantes votem, e que em suas escolhas pesem os nomes que defenderam os ideais do seu partido sim, mas que suas escolhas recaiam sobretodos nos nomes que tiveram a coragem de defender nosso país, ainda que contrariando a opinião pública ou os interesses das cúpulas partidárias. Enfim escolham por homens e mulheres de princípios.

Se o candidato escolhido será vencedor das eleições, isto é uma outra história, porém com a escolha certa, podem ter certeza, que independe do candidato vencedor, o partido já ganhou algo que não tem preço (ou melhor não deveria): Moral.

Feliz Natal e um Próspero Ano Novo Para Todos Nós

Bruna Augusto Pereira                                                    Marcus Vinícius Brancaglione dos Santos
Presidente do ReCivitas                                                   Coordenador de Projetos do ReCivitas