sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Basic Income Garantee Bank

Basic Income Garantee Bank

Um banco para a renda básica de cidadania


Dia 25 de outubro de 2010 completar-se-ão 2 anos de Consórcio da Renda Básica de Cidadania em Quatinga Velho. Após testemunhar os resultados não de um, mais de 25 pagamentos mensais de uma Renda Básica Incondicional nesta comunidade, é para nós do ReCivitas impossível não reconhecer sua importância fundamental para a constituição de uma sociedade mais justa e cada vez menos violenta. É impossível não defender a instituição de uma Renda Básica Universal não apenas como um direito civil ou econômico, mas como um direito humano, para além de fronteiras e barreiras de nacionalidades. E acima de tudo é para quem por livre iniciativa assumiu essa responsabilidade,  junto a todos aqueles que contribuíram para a experiência – impossível, depois de testemunhar todo o desenvolvimento humano promovido por este capital, parar de lutar com todas as forças que temos, e que não temos, para que este ciclo de confiança e desenvolvimento como liberdade não seja interrompido.

Entretanto toda esta disposição para trabalhar pela conquista e promoção desse direito não basta para garanti-lo de fato, pois a questão central permanece: Como? Como financiar a RBC?

"Não há recursos" - é a resposta recorrente, ou pelo menos a resposta recorrente daqueles suficientemente esclarecidos da impossibilidade de sustentar uma sociedade sem violência enquanto há pessoas sobrevivendo sem a mínima condição de fazê-lo. Como? Pois é, como?

Eis a pergunta que deve ser feita, Mas não como financiar a RBC, e sim como se alegar o absurdo de que não há recursos - e ainda acreditar em suas próprias palavras.

 Não vale apena nem entrar na questão do resgate trilionário das instituições financeiras pelos governos mundo afora, tomemos apenas a economia brasileira: não é só má-fé afirmar que não temos recursos para garantir as condições básicas para o exercício da cidadania, é absolutamente ridículo fazê-lo e acima de tudo crê-lo.

Mas lamúrias não podem ser consideradas uma expressão da disposição que aqui mencionamos para lutar por direitos. Processar governos para que cumpram seu dever pode até ser considerada uma expressão válida desta vontade, mas somente onde existe um verdadeiro estado democrático de direito. O que infelizmente por experiência de causa somos obrigados a considerar, para usar de um eufemismo, inviável. E a quem quiser, ou melhor, puder discordar, que venha até nós com disposição para a ação para que possamos exercer nosso direito de acesso à justiça e checarmos juntos o quão democrático ou de direito é o nosso Estado.

Porém, sinceramente não acreditamos mais que este seja o ponto. Porque desta porta que se fechou, e da insistência (teimosia) em buscar novas saídas, muitos conceitos se consolidaram, sendo que nossa convicção na Liberdade, não liberdade de proibições ou permissões, mas a Liberdade verdadeira, do poder para se realizar, se tornou inabalável, assim como nosso respeito pelo espírito da Liberdade.

Ora, se defendermos a liberdade individual daqueles que recebem a renda, porque não defenderemos o respeito a esta mesma liberdade para aqueles que financiam? lembrando que sendo universal, serão os cidadãos, cada qual na medida de suas possibilidades e necessidades, sempre os mesmos que pagam e recebem. Não há e nem poderia haver separação por qualidade, mas apenas diferença de condições.

Evidentemente que não somos fundamentalistas para irmos contra uma renda básica financiada por impostos, principalmente se ao invés de criarmos novos nos atermos primeiro aos que já são arrecadados, pois são bem mais do que suficientes. Porém não podemos nos esquecer que a RBC é definida não apenas pela sua forma de pagamento, mas também pelo seu modelo de financiamento, neste caso tributário. Tributos que podem interferir com a essência de uma RBC a ponto de transformá-la em mera compensação, ou pior, mera reparação muitas vezes até mesmo inferior ao montante da tributação que incide justamente sobre gêneros de primeira necessidade.

Ademais temos recorrentemente defendido a RBC como instituto de seguridade social base à constituição de estados de garantia de direitos humanos por sociedades livres, literalmente, como a base de um novo contrato social não-coercitivo fundado na extinção da violência pela neutralização de sua fonte primordial: a privação dos recursos e condições necessárias a preservação e desenvolvimento da vida e seus meios ( Liberdade).

Mas sinceramente não sei qual caminho é poderia ser mais utópico: se discutir a reformulação dos pactos sociais ou a reforma dos modelos tributários...

De qualquer modo o que importa é que em todos os casos é impossível se conseguir estas conquistas com canetadas, o movimento deve se estabelecer no seio na sociedade; cabe ao estado apenas ratificá-lo se legítimo, ou negá-lo se autoritário. Contudo, é importante lembrar que as demandas não podem ser abstratas ou mesmo parcialmente concretas, precisam sim ser completas, pois é inútil clamar aos governos por soluções, a essência deles não é inovar, mas regular. Não podemos pedir ao Rei que crie, mas apenas que adote ou no mínimo não mate a criação.

Disto devemos reconhecer a validade das críticas da exeqüibilidade da RBC, ou a até mesmo quanto a sua ingenuidade. E dentro deste raciocínio cabe ainda a pergunta: Mas não seria ainda mais ingênuo pensar em instituir a RBC por contribuições voluntarias?

Não. E o que nos impede de renegar essa possibilidade é a confiança que nos foi depositada por pessoas de todas as partes do mundo dispostas a dar início a esse movimento. Aliás, já deram e os dois anos de contribuições ao Consórcio em Quatinga Velho não nos permitem esquecer isso.

Se o projeto padece de falta de recursos não é por "falta de solidariedade" nem muito menos "por excesso de escrúpulos e transparência", mas é porque o modelo que permitiu sua viabilização e seu início é também o mesmo que determina seu limite hoje: as doações.

O problema não está no fato das contribuições serem voluntárias - via de regra a liberdade nunca é o problema, mas a solução. O problema está que o modelo de financiamento por doações não é sustentável, ou melhor não é auto-financiado. O mais precisamente é apenas um processo, quando o que precisamos é de um sistema.

Isto não quer dizer que acreditamos que o sistema de financiamente deve ou possa ser um moto-perpétuo, ou pior, que entrara em movimento sozinho, sem o impulso de nenhum capital. Apenas estamos dizendo que o instituto da RBC não é só perfeitamente capaz de pagar pelo capital nela investido, mas como também de dar um retorno muito maior. E não estamos falando aqui apenas de retorno do capital social, mas do capital financeiro, ou seja, o velho e conhecido lucro.

Ora, é evidente que este não é o objetivo da RBC nem pode ser muito menos das instituições que a financiam. É evidente que não podemos reduzir a RBC a um comodity social do crescente mercado de investimento em responsabilidade social e ambiental. Mas não podemos também dizer que a possibilidade de lucro seja um problema, principalmente se este lucro for redestinado justamente para o pagamento da RBC.

Basta portanto que esta instituição não distribua esses rendimentos na forma de lucros e dividendos, mas o reinvista integralmente para que se mantenha a integridade e  o cumprimento da finalidade da instituição: financiar projetos da RBC em comunidades políticas. Ou seja, um Banco Social para a Renda Básica de Cidadania.

Esta solução difere do fundo permanente que vemos tentando formar em alguns pontos importantes:

1. Os Fundos são de Investimento, permitindo o resgate do capital mais os rendimentos previstos em contrato.

2. Os Investidores não precisam ser corporações, mas depositários de qualquer montante.

Nada impede, portanto, que o Banco forme fundos permanentes com capital próprio, nem que hajam investidores de grandes montantes; o importante é abrir a possibilidade a cidadãos com pouco capital (nosso caso e o da maioria) para que possam finaciar a sua própria RBC e a de todos pela associação de suas economias, sem renunciar ao capital que já possuem, nem comprometê-lo por tempo indeterminado.

Sim, podemos financiar a RBC com o rendimentos de nossas próprias poupanças através de instituições financeiras e bancárias, porque não?

Nao com impostos sobre instituições bancárias, mas sim de uma associação de Investidores-Depositantes. O capital não pertence ao ReCivitas, nem ao Banco, mas continuam pertencendo aos investidores que exerceriam o controle da melhor forma possível: não demandando, mas exigindo mais eficiência e transparência para continuar financiando.

Outro elemento importantíssimo, são as possibilidades que se abrem para autodeterminação da RBC pelas comunidades, podendo até no futuro desenvolver instrumento de pagamento não apenas igualitário, mas equitativo, respeitando não apenas as particularidades de uma localidade, mas de cada indivíduo em comum acordo com os membros de sua comunidade.

Será possível também decidir fornecer instancias de decisão para que as comunidades definam a percentagem de sua contribuição sobre os rendimentos ajustando diretamente o valor da RBC a disponibilidade de recursos da própria comunidade. E quando um número considerável de depositantes e comunidades estiverem presentes no sistema será possível cobrir eventuais defasagens na RBC ainda que toda a comunidade seja afetada, ou aumentar o valor em caso da necessidade de reconstrução ou recuperação da economia ou infra-estrutura de uma determinada comundade, formando uma verdadeira rede de seguridade da RBC entre as comunidades políticas federadas.

Será possível, dependendo do grau de abrangência da associação: quanto menos segregada, quando menor for a segregação de classes, maior a possibilidade de estabelecimento imediato de uma RBC auto-financiada. Isto pela simples disposição de todos os membros da comunidade em pagar e receber uma RBC de acordo com um percentual igual contratado por todos, formando gradualmente seu Fundo Comum.

Tanto maior será a possibilidade de sucesso desta associação quando mais ampla for a associação, não apenas entre os indivíduos comprometidos com a comunidade política, mas com o comércio, empresas da localidade; enfim todas as pessoas jurídicas de fins lucrativos, chamadas a contribuir com uma parcela de seus lucros para a constituição desta rede de seguridade. Chamadas e não coagidas, porque tudo o que é necessário é a livre competição destes com os negócios capazes de aproveitar a vantagem que será a preferência da comunidade aqueles que contribuem com sua parte para a segurança, sua e de todos, com a RBC.

Da parte do Banco, conforme o desenvolvimento das comunidades, poderá progressivamente investir também em microcrédito, fornecendo capital para os pequenos empreendedores que surgem naturalmente nas comunidades da RBC, com a vantagem ainda de potencializar o sucesso destes microempreendimentos pela própria injeção de capital advinda da RBC. Esses microempreendedores juntamente com outros não necessariamente inseridos em comunidades da RBC - mas necessariamente dentro dos princípios da economia solidária - poderão se constituir em um mercado, permitindo que os próprios investidores e financiadores da RBC banquem os projetos de RBC em novas comunidades não pela transferência direta de rendimentos, mas pela compra destes produtos com moeda social criada com este fim.

Com o crescimento deste mercado social, o investidor poderá receber parte do rendimento de seu capital na forma desta moeda social. E a RBC que em princípio era bancada pela "taxas administrativas", passa a ser financiada com o próprio "câmbio" da moeda social.  Funcionando na prática como um sistema de financiamento muito mais eficiente do que qualquer tributo.

Do ponto de vista legal a titulação de OSCIP e as cláusulas estatutárias do ReCivitas nos permite adotar essa solução.  Mas esta é uma realização que não pode em absoluto ser efetuada de forma isolada, ou mesmo dentro dos limites culturais de uma única nacionalidade. Necessita de diferentes capacidades, pontos de vista, criatividade, mas um mesmo objetivo e vontade: colocar em prática esse instrumento de garantia dos direitos humanos a vida, liberdade e capital. Colocar de pé este Banco.

Neste exato momento, o ReCivitas está formando uma equipe para trabalhar na constituição desta instituição financeira com finalidade social, e estamos abertos a todos que queiram participar e contribuir para a criação deste Banco Social para a RBC. Vislumbrando o futuro e pavimentando o caminho em direção ao desenvolvimento de toda a potência desta instituição, mas ao mesmo tempo com os pés no chão, sem jamais esquecer de onde vem toda a nossa força para esta empreitada: Quatinga Velho.

O Banco nasce portanto não apenas com uma finalidade maior, mas com uma missão imediata e uregente: tornar auto-financiada esta pequena comunidade, mesmo porque ela é a célula-modelo, perfeitamente passível de ser replicada, modificada e aperfeiçoada para a disseminação em rede da Renda Básica Universal.

Sim, um Banco Social, nossas economias podem financiar uma rede de seguridade internacional que garanta o direito de todos seres humanos ao capital necessário para garantir uma vida em liberdade, um Banco para financiar a RBC, porque não? 


Marcus Vinicius Brancaglione dos Santos

Out.2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Speech at BIEN Congress 2010

I'd like, first of all, to than prof. Karl Widerquist and Elizabeth Smith Rousselle for visiting and pushing us to keep going with our pilot project.

For the same reazon, I want thank the journalist Christoph Schlee and of course the senator for generously open this space to give our testimony.

28% food. 26% clothes. 14% material for school. 10% transport. 8% medicine. 6%material for construction. 2%save money.

This datas, or better, results, are not from the beautiful project in Namibia. But from Brazil, in a small village named Quatinga Velho, only 50km from this Congress.

In this village, 77 people already receive an BIG for almost 2 years.

We don't get deep in datas, because they already are in our report about the pionner project of BIG Quatinga Velho.

We want to use the short time we have to answer the question.

Some people say that 77 person is not a significant number.

What answer to give  then?

I believe that the president of Brasil already answer in your letter in this congress.

People can't be treated like numbers.

Bishop Kameta says that saw a truly miracle in Namibia. Listen that touch us very deep. Because we also had the privilege to see this miracle also in our project.

Why some people see the miracle of BIG and other's don't?

The answer is simple. It is impossible to see the miracle if everything that matters is counting number of the fishes.

The miracle isn't in the fishes, but in multiplication.

Put in practice the BIG is not only to have the wish to do that, but a complete change of paradigmas.

Quality in the place of quantity. Network in the place of pyramids. Multiplication instead of just grow, or just LIBERTY instead of power.

Because even in front of the poverty or world cup, not even with bread and circus lives the man.

And more important is that one human being IS all Universe.

Bruna Augusto Pereira

Marcus Vinicius Brancaglione

 

segunda-feira, 5 de julho de 2010

DISCURSO - BIEN CONGRESS

Gostaríamos de agradecer ao Prof. Karl Widerquist e a Prof. Elizabeth Smith por sua visita e a força que nos deram para continuarmos em frente com nosso projeto-piloto. Também ao jornalista Christoph Schlee e ao Senador por abrir este espaço para que pudéssemos dar nosso testemunho sobre a Renda Básica Incondicional.

Estes dados, ou melhor, resultados não são do belíssimo projeto da Namíbia, mas daqui do Brasil, de uma pequena vila chamada Quatinga Velho há 50 km deste Congresso.

Nesta vila 77 pessoas já recebem uma RBI a quase 2 anos. Não vamos nos aprofundar nos dados, porque eles já estão disponíveis em nosso relatório sobre o projeto pioneiro de Pagamento da RBI em Quatinga Velho.

Queremos usar este breve tempo que temos para responder a seguinte questão:

Algumas dizem que 77 pessoas não é um número significante! O que responder a elas?

Creio que o próprio Presidente da República do Brasil, já respondeu na sua carta para este Congresso. Pessoas não podem ser reduzidas a números.

Bishop Kameeta disse ter presenciado um verdadeiro milagre da multiplicação dos peixes na Namíbia com a RBI. Ouvir isso nos toca profundamente porque também tivemos o mesmo privilégio de presenciar este milagre também em nosso projeto experimental.

Porque alguns enxergam o milagre da RBI e outros não? A resposta é simples: é impossível ver o milagre se tudo que nos importa é contar o número de peixes.

O milagre não está nos peixes, mas na multiplicação.

Colocar a RBI em prática, não exige apenas vontade política, mas uma mudança completa de paradigma.

Multiplicação no lugar da mera expansão.

Desenvolvimento no lugar do mero crescimento.

Qualidade no lugar da quantidade.

Redes no lugar das pirâmides.

Ou simplesmente

LIBERDADE NO LUGAR DO PODER.

Porque mesmo perante a pobreza, ou copas do Mundo, não podemos jamais nos esquecer que nem só de pão (e circo) vive o homem.

E principalmente que mesmo um único ser humano é todo o universo.

Obrigado a todos.

- DISCURSO REALIZADO EM 01. JULHO. 2010 NO XIII BIEN CONGRESS EM SAO PAULO 

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Did you know that in Brazil some people already get a real unconditional Basic Income?

By Christoph Schlee

                                                                                                                                                                                     

Since October 2008, residents of the village Quatinga Velho have relied on the payment of an unconditional basic income. There are 30 Reais a month (nearly 13 Euro) paid to all community members who want to receive it. This month (July 2010) 77 people are going to receive a guaranteed basic income (BIG), without any discrimination or bureaucracy.

The pilot project is just conducted by an NGO, without any government money, excluding grants from companies - only financed by voluntary contributions from people who support the project - not only in Brazil but worldwide. These people trust in BIG, and make it possible today. And it is true, it works. All money donated goes straight into the hands of the people, because the operating costs of the NGO are payed by another source.

Without denying the responsibility of the state we don't want to wait for the government to realize the BIG. It is obvious that 77 people are – in comparison to 200 million Brazilians – only a little number. But it is a first real step. Our vision is to demonstrate in reality how BIG works, not only to discuss and to create papers in favour of unconditional basic income.

If you visit Quatinga Velho you can see very fast, that the BIG is an efficient support for the people, changing their real life: First you recognize the change of nutrition. Furthermore, people begin to start their own projects, without any prescriptions by the state: Planting manioc, having chickens, rebuilding their houses and even buying a personal computer. It is amazing for us to see, that within only two years the health situation of the children has completely changed.

Many people in Quatinga Velho are not able to receive the so called Bolsa Familia social income by the state. Bureaucracy and the conditions create a big obstacle for people, who even have problems with reading and writing. If they compare both Bolsa Familia and unconditional basic income, the people use just one sentence: "We prefer the Basic Income, because it is much more easy to get." An argument, that convinces more than many theoretical explanations.

That's what this little pioneer-experiment inexpensive and highly replicable has shown: It is not only money, but the respectful way of transfer, which makes the difference to the former strategies of social welfare. The access to material capital, human and social development is a human right, and the unconditional basic income is the instrument for its fulfillment.

In our experience, sustainable growth needs a step by step-strategy. The objectives and the means have to be developed especially by initiatives of the civil society, with its capacity for innovation, its knowledge for the basic needs and its possibility of multiplication. We know, that Basic Income has to be established by the state – but politicians have to take into account the experiences of practical projects, not only of theoretical studies.

Therefore, we begin to create a network of interconnected experimental nuclei, spread allover different places of the world, combining voluntary exchange, the source of funding and knowledge, with a simple purpose: to put BIG into practice. To have success, we take three aspects of social life into account: economy, politics and the cultural development. A strong cooperation between scientists, funders and social entrepreneurs is able to establish a new social contract.

Even it seems to be utopic, Quatinga Velho is a part of a new network of solidarity, based on unconditional basic income - in partnership with the Kölner Initiative Grundeinkommen, Germany; GLS Bank, Germany; Basel Institute of Commons and Economics, Switzerland, and TVONG. We are going to establish the idea within the civil society, to convince the governments to fulfill their purpose – not only with arguments, but with the examples of pilot projects and best practice. We are sure, that many members of BIEN will support us and join the new network. More information: www.rendabasicadecidadania.org or www.recivitas.org.br

Bruna A. Pereira and Marcus Vinicius Brancaglione, founding members of ReCivitas and coordinators of the pilot-project BIG Quatinga Velho are teachers at Instituto de Administracao para o Terceiro Setor Luiz Carlos Merege. They, wrote an e-book about the project, check the website www.recivitas.org.br,recivitas@recivitas.org.br         Make your contribution!            

Você sabia que no Brasil já existem pessoas recebendo uma Renda Básica Garantida verdadeiramente Incondicional?

Por Bruna A. Pereira e Marcus Vinicius Brancaglione dos Santos

Desde outubro de 2008, os moradores da pequena vila de Quatinga Velho tem contado com o pagamento de uma renda básica incondicional. São 30 reais por mês pagos a todos os membros da comunidade que queiram recebê-la.  Neste mês serão 77 pessoas a receber uma renda básica garantida, sem nenhum tipo de discriminação ou burocracia.

Um projeto-piloto realizado por uma ONG, sem dinheiro do governo; sem impostos, deduções ou doações de empresas, apenas contribuições voluntárias de pessoas -  não só do Brasil, mas de todo o mundo.

Pessoas que acreditam que a Renda Básica Incondicional funciona.

E de fato funciona.  É isso o quê esta pequena experiência pioneira bastante simples, barata e altamente replicável têm demonstrado.

Autodeterminação, democracia direta e sobretudo transparência. Todo dinheiro doado vai direto para as mãos das pessoas, pois quem paga pelos custos operacionais é a ONG.

É inegável a responsabilidade do Estado, mas não podemos apenas ficar esperando que os governos comecem a cumprir seu dever.

Acreditamos que o acesso ao capital material, humano e social é um direito do ser humano, e que Renda Básica Incondicional é o instrumento para seu cumprimento em sociedades livres.

Muitos pensam: mas o quê são 77 pessoas perante 200 milhões de brasileiros ou 6 bilhões de seres humanos? São o começo. Um verdadeiro primeiro passo. Porque o crescimento sustentável não se expressa em meras quantidades ou possibilidades de expansão, mas por inovação, qualidade e, sobretudo capacidade de multiplicação.

Por isso trabalhamos pela construção de uma rede de núcleos experimentais interconectadas e espalhadas pelas mais diferentes localidades do mundo; intercambiando voluntários, fonte de financiamento e conhecimento, com uma simples e única finalidade: colocar em prática a Renda Básica Incondicional.

Quatinga Velho não é apenas uma experiência, é uma mudança de paradigma. Porque o Social não tem apenas uma dimensão, mas três:  Econômica, Política e Cultural. E somente da união de todas podemos formar uma verdadeira sociedade.

Da cooperação entre academia, financiadores e empreendedores sociais, será possível constituir uma verdadeira rede de seguridade social universal, não só entre Nações, mas entre todos os seres humanos.

Utopia? Não, Quatinga velho. Na melhor das hipóteses um ponto para uma rede de solidariedade que vem para substituir o monopólio da violência por um novo contrato social, baseado na provisão incondicional do capital em todas suas dimensões, ou simplesmente, Renda Básica Incondicional. Na pior das hipóteses, a pressão da sociedade civil que os governos tanto precisam para cumprir sua finalidade.

O projeto-piloto da Renda Básica Incondicional em Quatinga conta com a parceria do Grundeinkomen Iniciative de Colônia, Alemanha; GLS Bank, Alemanha; Basel Institute of Commons and Economics, Suíça; e da TVONG, Brasil.

Para saber mais acesse: www.rendabasicadecidadania.org ou www.recivitas.org.br

Você sabia que no Brasil algumas pessoas já recebem uma Renda Básica verdadeiramente Incondicional?

Por Christoph Schlee                                                              

Desde Outubro de 2008, os moradores da pequena vila de Quatinga Velho podem contar com o pagamento de uma renda básica de cidadania. São 30 Reais por mês pagos a todos os membros desta comunidade que queiram recebê-la. Neste mês (Julho 2010) 77 pessoas irão receber uma renda básica incondicional, sem qualquer discriminação ou burocracia.

O projeto piloto realizada por uma ONG, sem dinheiro do governo, sem impostos, deduções ou doações de empresas – é financiado apenas por contribuições voluntárias de pessoas que apóiam o projeto - não apenas do Brasil, mas do mundo inteiro. Pessoas que acreditam na RBI, e estão tornando-a possível hoje. Porque é verdade, ela funciona. Todo o dinheiro doado vai direto para as mãos das pessoas, porque os custos operacionais da ONG são pagos por outra fonte.

É inegável a responsabilidade do Estado, mas não podemos esperar pelo governo para realizar a RBI. É óbvio que 77 pessoas - em comparação a 200 milhões de brasileiros – é um número pequeno. Mas é um primeiro passo real. A idéia é demonstrar como a RBI funciona na realidade e não meramente polemizar ou escrever artigos em favor da renda básica incondicional.

Se você visitar Quatinga Velho poderá ver muito rápido que a RBC é um suporte eficaz para as pessoas, mudando sua vida real: primeiramente você verá de imediato a diferença nutricional. Além disso, as pessoas começam a iniciar seus próprios projetos, sem qualquer prescrição por parte do Estado: Plantio de mandioca, criação de galinhas, reconstrução de suas casas e mesmo comprar um computador pessoal. É incrível ver que em apenas dois anos a situação da saúde dos filhos mudou completamente.

Muitas pessoas em Quatinga Velho não perfazem as condições de receber o Bolsa Família, programa do governo. A burocracia e as condicionalidades criam um grande obstáculo para as pessoas, que ainda tem problemas com leitura e escrita. Se eles comparam os dois, Bolsa Família e Renda Básica Incondicional, as pessoas usam apenas uma frase: "Nós preferimos a Renda Básica, porque é muito mais simples de se receber." Um argumento que convence mais do que muitas explicações teóricas.

Isso é o quê esta pequena experiência pioneira, barata e altamente replicável mostrou: não é só dinheiro, mas a forma respeitosa de transferência que faz a diferença para estratégias de bem-estar social. O acesso ao capital material, ao desenvolvimento humano e social é um direito humano, e a renda básica incondicional é o instrumento para a sua realização.

Nesta experiência, o crescimento sustentável necessita de uma estratégia passo a passo. Os objetivos e os meios têm que ser desenvolvido especialmente por iniciativas da sociedade civil, com a sua capacidade de inovação, o seu conhecimento para as necessidades básicas e as suas possibilidades de multiplicação. Sabemos que, Renda Básica tem de ser estabelecida pelo Estado - mas os políticos têm de levar em consideração as experiências de projetos concretos, não apenas os estudos teóricos.

Por isso, começamos a criar uma rede de núcleos experimentais interligados, espalhadas por diferentes lugares do mundo, combinando o intercâmbio voluntário, fonte de financiamento e conhecimento, com um simples propósito: colocar em prática a RBC. Para ter sucesso, foram considerados os três aspectos da vida social: economia, política e desenvolvimento cultural. A forte cooperação entre os cientistas, financiadores e empreendedores sociais é capaz de estabelecer um novo contrato social.

Mesmo que pareca ser utópico, Quatinga Velho faz parte de uma nova rede de solidariedade, baseada na renda básica incondicional - em parceria com Kölner Iniciativa Grundeinkommen, Alemanha; GLS Bank, Alemanha; Basel Institute of Commons and Economics, da Suíça, e TVONG. Vamos estabelecer o conceito dentro da sociedade civil, para convencer os governos a cumprir sua finalidade - não só com argumentos, mas com os exemplos de projetos-piloto e melhores práticas. Temos certeza de que muitos membros da BIEN vão nos apoiar e juntar-se a nova rede. Mais informações: www.rendabasicadecidadania.org ou www.recivitas.org.br

Bruna A. Pereira e Marcus Vinicius Brancaglione, são professores do Instituto de Administração Para o Terceiro Setor Luiz Carlos Merege e coordenadores do projeto-piloto RBC Quatinga Velho. E escreveram um livro sobre o projeto, acesse www.recivitas.org.br ou recivitas@recivitas.org.br. Baixe o e-book e faça sua contribuição!

sábado, 19 de junho de 2010

O IMPERADOR E O FILÓSOFO

Marcus Vinicius Brancaglione dos Santos

Junho 2010

 Certa feita, Alexandre, o Grande, ao encontrar-se com o filósofo Diógenes de Sínope, interpelou-o dizendo para que pedisse o que quisesse, que ele, Alexandre, mandaria que sua vontade fosse atendida.

Diógenes dito o cínico – porque vivia como um cão; vivia na verdade como um mendigo e louco nas ruas de Sínope, tendo por hábito importunar os cidadãos, munido de uma lanterna acesa em plena luz do dia e a irritante pergunta: "É você um homem?" Pergunta que às vezes, as vistas de todos, também dirigia às estátuas - não devia, portanto, ser um homem muito querido na cidade.

Alexandre que tivera como preceptor outro filósofo mais famoso, Aristóteles, ao passar pela região durante suas campanhas de conquista fez questão de "visitar" Diógenes.

Reza a lenda que cercado por suas tropas, do alto de seu cavalo e conquistas, Alexandre parou bem à frente de Diógenes e com toda autoridade lhe disse:

- Peça o que quiser filósofo; apenas peça e mandarei que se cumpra.

Diógenes, deitado na rua, possuidor de nada - além de sua famosa lanterna, e quem sabe as roupas do corpo - olhava para Alexandre que estava parado justamente entre ele e o Sol, encobrindo-lhe assim com toda a sua sombra.

Diógenes apontou então para o sol e movimentando lentamente a mão, sinalizava ao Imperador que este simplesmente fosse um pouco mais para o lado, de modo a não lhe bloquear a luz.

Alexandre, para surpresa de todos, assentiu ao gesto um tanto indolente; postou-se mais ao lado de modo que sua sombra não se fizesse mais sobre o homem. E nesta posição permaneceu. Parecia ainda aguardar o pedido de Diógenes.

O filósofo percebendo que Alexandre não havia entendido que seu pedido já fora feito e atendido, complementou dizendo, enquanto sua a mão ainda estava a apontar para o Sol:

- Apenas não me tire aquilo que não pode me dar.

Mais adiante os comandados de Alexandre, que não entendiam o interesse do conquistador do Mundo por um reles mendigo, perguntaram por que ele, Alexandre, o procurara; a que o Conquistador teria respondido:

-Se não fosse Alexandre, o Grande, seria Diógenes, o filósofo.

Algum tempo depois, quando o Imperador já se encontrava no ápice de sua glória, deram a Diógenes saber o quê Alexandre havia dito, que "se não pudesse ser Alexandre gostaria de ser Diógenes"! A que o cínico apenas replicou:

- Eu, se não pudesse ser Diógenes, a última pessoa do Mundo que gostaria de ser... é Alexandre.

BIG QUATINGA VELHO - HISTORY OF MALAIKA VISIT

Dear friends

I must tell you the most solidary valentine's day in Brazil I ever had!

We had the pleasure to have Malaika Cipriano, from Portugal, at home.

With "Tatuzinho", my car, we went to Quatinga Velho at 17h because there would have the "Festa Junina" tipical brasilian party with tipical rural food, and fire, dance…is beautiful! We had some refrigerant and pie in the car to bring to party and lots of energy!

Me, Malaika and Marcus were going there, going in the middle of rainforest, only with a few farms when suddenly I took a big hole (dirt street) and the car broke! Yes, in the midlle of nowhere!! No cel phone, nobody, nothing!

The night arrive and we walk to a farm  searching for a phone and the 2 person that live there was very friendly and let me call to car insurance, it was 18h30. And we back to the car because in 1h the truck arrive…

At 20h, after eat the pie and drunk the refrigerant, one car pass and say "I back in 10 minutes to help you". After 20 minutes this couple stop the car and help us. The man get into under the car, get really dirty and the lady with perfume and beautiful clothe just wait him and help us, with a smile in their faces. They were going to a party.

During this, other couple stop there to help. Me and Malaika took a ride with then to back in the farm to call again to the car insurance, it was 21h!!

They didn't believe we were there alone, in the cold…nobody to help. Marcus was still there trying to fix the car with the first couple.

Me and Malaika was safe, in a hot house with a lovely old couple that told us that in the next day they will be grandparents for the first time! They were very excited about it. For my surprise the lady was born in Quatinga Velho! And she know a lot of people there, so we talk and talk about histories…

After eat some bread and drink hot chocolate, when was 23h50 one car stopped in front of this farm and say "Marcus is coming with the truck, I let the car at Jundiapeba (30km from there) and when we were backing we find the truck that was searching for you, so he is coming with the truck in 5 minutes!!".

Unbelievable!!!! The man ride Marcus until a gas station 30km from there, where has telephone, light…but all documents and wallet was with me, and Marcus didn't know the number of the farm! So, the man was bringing Marcus back!

Marcus arrive and we go to the gas station and the truck pick my car. We back in a taxi cab to my home at 2h…the story is no end yet..

Sunday morning, Malaika lent her car to go to Quatinga Velho, yes, to put in dirt street, walk 80km (going for other side of the mountain, long way) and we pass in every house to talk with people and share the books and toys!

It was wonderful! Malaika is a very nice lovely person and get involved with the kids very fast!

All this solidarity in valentine's day, at night, cold, in the middle of nowhere…thanks a lot for all good people that stopped to help us! Thanks Malaika for coming to this intense weekend and lent the car! Today I know you are much more then a contributor, or partner, you are a special friend that I never will forget :)

Now, with all bureaucracy, football…my car was missing for 3 days with the car insurance, only today went to start mechanical repairs. I need wait until next Friday to have the Tatuzinho back!and pay...of course!

But I don't think the car insurance is concerned about my life, work, if I need the car to pick all the people that start arrive on 20th to stay at my house and visit Quatinga Velho, the BIEN Congress…so, I need a jeep or other car, and again someone solidarity to keep going...let's see!!

Have a nice BIG weekend

Bruna

-hope you understand my english:)

-- 

ReCivitas
Instituto pela Revitalização da Cidadania
CNPJ 08.518.270/0001-09
OSCIP Processo MJ nº.08071.018450/2007-10
www.recivitas.org.br

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*As informações contidas neste e-mail e nos arquivos anexados são confidenciais para uso exclusivo do destinatário aqui indicado.
**Antes de imprimir pense em seu compromisso com o Meio Ambiente

quinta-feira, 29 de abril de 2010

GELD FÜR ALLE! EIN BERICHT AUS BRASILIEN

Viel wird in letzter Zeit über das sog. "bedingungslose Grundeinkommen" diskutiert. Dabei handelt es sich um ein bedingungslos an jeden Bürger ausgezahltes Einkommen, dessen Höhe ein würdevolles Leben sowie soziale Teilnahme gewährleistet. Angesichts der Wandlung im wirtschaftlichen Bereich, wo immer weniger Arbeiter benötigt werden bei gleichzeitig steigender Produktivität, erscheint das Grundeinkommen als bester Ausweg aus der Falle des bestehenden Lohnarbeitsystems. Was es dazu allerdings braucht ist die Erkenntnis dass wir, wie es bereits Erich Fromm 1966 in seinem Aufsatz über ein „garantiertes Einkommen für alle" formulierte, in einer Zeit des Überflusses leben – es ist genug für alle da. Hinderlich erweist sich dabei nur unsere geistige Haltung, eine regelrechte „Psychologie des Mangels".

Einer der häufigsten Einwände dem Grundeinkommen gegenüber ist weniger wirtschaftlich motiviert als vielmehr durch Misstrauen: „Wer würde dann noch arbeiten?".

Dieser Einwand wurde von Pilotprojekten zum Grundeinkommen aufs deutlichste widerlegt.
Zwei Verantwortliche für das seit nunmehr einem Jahr laufende Projekt in Quatinga Velho in Brasilien (das als einziges Land das Recht auf ein Grundeinkommen in seine Verfassung aufgenommen hat) werden über Ergebnisse und Beobachtungen ihres revolutionären Experiments berichten. Sie gehören u.a. auch dem Organisationskomitee für den heurigen internationalen Grundeinkommenskongress an, der vom 30. Juni bis 2. Juli in Brasilien stattfinden wird.
 

SOLDI PER TUTTI – UN RESOCONTO DAL BRASILE


Molto si sta discutendo del cosiddetto „reddito di base", erogato a ciascun membro di una comunità, incondizionatamente e in misura da garantirne la sussistenza e la partecipazione sociale. Alla luce della moderna trasformazione dell'economia, che pur richiedendo sempre meno lavoratori continua a crescere in termini di produttività, il reddito di base si prospetta come l'alternativa più valida al vigente sistema reddituale. Si tratta di riconoscere che viviamo in un'era dell'abbondanza, e che uno dei nostri maggiori problemi risiede in una "mentalità della carenza", come osservò Erich Fromm in un saggio su un "reddito garantito per tutti" del 1966.

Una delle più comuni obiezioni al reddito di base denota sfiducia nei confronti del prossimo: "chi lavorerebbe ancora?".
Tale obiezione è stata ampiamente confutata dalle sperimentazioni sul reddito di base esistenti al mondo.
Due responsabili del progetto di Quatinga Velho in Brasile (unico Paese al mondo ad avere inserito il reddito di base nella propria costituzione) ci illustreranno esiti e osservazioni del loro rivoluzionario esperimento, operativo da ormai un anno. Essi fanno inoltre parte del comitato organizzatore del congresso sul reddito di base di quest'anno, che si svolgerà dal 30 giugno al 2 luglio in Brasile.

Info: http://www.bien-st.org – E-Mail: info(@)bien-st.org

 

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Capital como Direito Universal da Humanidade

Marcus Vinicius Brancaglione dos Santos
 

“Todo ser humano tem o direito de herdar a riqueza natural e humana legada por nossos antepassados comuns – a família humana. Esta herança universal, direito de gerações presentes e futuras, deverá ser transmitida e renovada de forma periódica e contínua pela sociedade, mediante a provisão garantida de uma capital incondicional para cada indivíduo, jamais inferior ao essencial para a subsistência digna, em um estado de paz, segurança e liberdade. O capital básico para que cada ser humano tenha por toda sua vida e em quaisquer circunstâncias condição e meios para cumprir os deveres e direitos inerentes ao pacto social e preservação da Humanidade.”

Considero as palavras acima expressão dos direitos mais fundamentais do ser humano. Tais palavras não constam da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas seu valor, validade e natureza não são, nem jamais poderão ser determinados pelo mero reconhecimento de Nações, ou muito menos apenas pelas ideias nele contidas.

Como toda e qualquer declaração, seu valor só se determina por seu cumprimento e sua natureza, as verdadeiras intenções, jamais poderão ser lidas no que está escrito, mas sim no que foi e, principalmente, no que continua a ser feito com o que se escreveu.

De uma mentira premeditada, a mais verdadeira ou sincera visão de um futuro a se realizar, a validade da declaração está no que se faz a partir dela. Isto que vale, das mais simples afirmações até as mais importantes declarações de princípios, como os direitos humanos, precisa de muito mais do que reconhecimento, ou Nações, para deixar de serem só palavras, precisa de pessoas dispostas a começar e continuar a colocar estes princípios em prática, dia após dia, sem se iludir ou deixar se enganar de que esses fundamentos possam surgir ou se sustentar sozinhos, ou tão pouco pela força, vigilância ou coerção de terceiros.

Princípios só se tornam fundamentais quando algo real é constituído a partir deles. Isto quer dizer que os direitos humanos só serão os fundamentos de uma nova realidade, quando constituirmos a partir destes direitos, o que só se pode construir com eles: uma Sociedade. Se os direitos humanos ficarão reduzidos a uma simples declaração de intenção, ou se de fato serão os fundamentos universais de uma nova realidade para a sociedade humana, isto é algo que com certeza não se fará por decretos ou resoluções, mas pura e tão somente pelas ações de indivíduos decididos a não esperar mais para colocar em prática estes direitos.

Não. Não serão as Nações Unidas com suas resoluções, nem muito menos as forças armadas de Nações isoladas que farão cumprir os direitos humanos, pelo contrário, serão os seres humanos livres da violência, arbitrariedade e do medo, pessoas naturais repletas do espírito pioneiro dos fundadores das Nações que o farão.  Serão estas pessoas reais que de livre e espontânea vontade darão corpo a instituição dos direitos humanos, pondo um fim ao estado primitivo de sua privação. 

Porque direitos não são criados por instituições, mas instituições criadas para garantir direitos. Institutos não têm personalidade, caráter, ética ou princípios, nem podem ter responsabilidade ou iniciativa. Instituições não possuem nada, absolutamente nenhuma propriedade ou qualidade além daquelas que atribuímos a elas. Das menores associações até as mais poderosas corporações e Estados, tudo o que têm, toda sua força e poder, não são outro senão aquilo que cada pessoa lhe empresta. Isto não quer dizer que as instituições sejam boas ou más, úteis ou inúteis, apenas lembra o quão ingênuo é acreditar que entes imaginários ―por nós criados e mantidos― façam por nós aquilo que só a vontade e o trabalho de seres reais e humanos pode fazer: dar corpo a estas entidades e lugar para seus representantes.

Cargos e instituições são formados por pessoas e não pessoas por cargos ou instituições. Dentro, ou por trás, de cada instituto não há senão à vontade e à ação de pessoas sob ou para pessoas. Na base de nossas instituições há sempre e tão somente a anuência e o trabalho de cada um de nós. Se as instituições de direitos que aspiramos serão uma realidade, ou continuam a ser ficção, idéias a se realizar, isto será determinado pela nossa ação ou omissão, o produto de nossa força de vontade e decisão e não da de representantes. Representantes não podem decidir por nós nem determinar nossas vontades, simplesmente porque tudo o quê podem fazer é representar decisões.

Representantes não decidem, e se decidem não são representantes. Delegar a responsabilidade da fundação dos direitos humanos a representantes não é, portanto, apenas um ato de alienação, mas um ato nulo, não porque estes não tenham legitimidade para instituídos, mas por uma razão ainda vez mais cabal, eles não detém o poder de fato para fazê-lo.

Ainda que de boa-fé os representantes dos governos das Nações assinassem um pacto para fazer cumprir os direitos humanos, de modo algum este documento corresponderia a sua constituição. Estados, os governos das Nações, não têm autoridade ou poder para firmar pactos sociais porque não têm as faculdades necessárias para cumpri-los. Podem até assumir o compromisso de não violar estes direitos, ou ainda de não impor barreiras para que estes sejam cumpridos, mas o poder de fato para cumpri-los só as pessoas de uma Nação possui, ou melhor, cada indivíduo de toda e qualquer Nação.

Os Direitos Humanos, como toda instituição, só se realizam no seu cumprimento, isto é, pelos atos de quem pode e decide cumpri-los: ninguém menos do que os próprios seres humanos. Pessoas naturais investidas de nenhum outro título ou qualidade além daquele que lhe é inalienável, o de serem humanos. Da parte do Estado o máximo que se pode fazer é coibir, reprimir ou punir quem por ventura venha a violar ou descumprir estes direitos, mas isso não é nem de longe o mesmo que a instituição de Direitos Humanos, nem propriamente o estado de constituição destes direitos.

Estados não constituem sociedades, sociedades constituem Estados para, em princípio, protegê-las. Se outrora, os Estados Modernos foram capazes de cumprir sua finalidade primordial não mais o são, ou melhor, não para os direitos humanos. Estados foram instituídos para proteger antes os direitos do cidadão, para só depois de todos os seres humanos.

O Estado original, constituído tão somente do monopólio da violência, não foi e nem é suficiente para garantir a paz necessária ao desenvolvimento dos Direitos do Homem. Assim como as instituições de proteção e assistência social agregadas a este não fizeram mais do que remediar os conflitos ―meros paliativos―, incapazes de constituir um estado de segurança social básico à preservação dos próprios direito civis. A paz entre nossos Estados Armados nada mais é do que a trégua entre suas guerras. E, tanto se engana quem pensa que as armas são o problema quanto quem pensa que são a solução: a guerra não nasce nem morre pelas armas, mas sim pela superação das condições primitivas de privação, geradoras dos conflitos humanos.

Entretanto a disparidade do nível de desenvolvimento bélico das Nações em relação ao nível de desenvolvimento das suas instituições sociais, não só tornam inviável a instituição de um estado universal de direitos e a Paz Mundial, mas põe em risco a segurança das Nações, até mesmo das mais desenvolvidas. Pois, o poderio das Nações para dar combate em conflitos deflagrados é imenso e avançado, enquanto o poder para neutralizar a fonte geradora dos conflitos é praticamente nulo e obsoleto.

Isto não é uma crítica. Precisamos entender que os Estados simplesmente não foram em sua origem projetados para instituir, garantir ou preservar direitos, de fato sequer foram concebidos para entrar ação em estados de direito, mas sim propriamente em estados de exceção dos direitos. A essência de seu poder é bélico, e suas instituições mais primordiais, aquelas sob os quais se sustentam em última instância todas as demais são armadas: forças armadas criadas para conquistar e manter territórios, dando combate às forças armadas de outras Nações com o mesmo fim, e forças policiais criadas para dissuadir e atacar quem atente contra a vida, propriedade e liberdade dos membros assim protegidos da sociedade. Forças concebidas, portanto, para dar combate a tudo e todos que sejam considerados uma ameaça a sociedade vigente.

Posto nestes termos o Estado pode até parecer ilegítimo, e de fato o é quando usa destas forças para sustentar ou prolongar estados de exceção, mantendo pelas armas sociedades incapazes de se manterem sem elas. Estados armados ou não, só são legítimos quando protegem o estado de direito, que não é outro senão aquele constituído com base na garantia dos direitos, ou seja, hoje a própria sociedade civil, no futuro, a humana.

A constituição de estados de direitos não se faz sob a força das armas, nem tão pouco pela mera deposição das mesmas. A instituição de uma sociedade humana capaz de prover e garantir um verdadeiro estado de direito universal, passa ao largo da extinção ou manutenção de forças armadas ou instituições resguardadas por estas.

E de nada adianta ficar sonhando com antigos estados naturais, livres e pacíficos, porque os estados primitivos são sempre de maior privação, violência, ou, por definição, de luta pela sobrevivência. Nos estados primitivos prevalece a força bruta, nos estados sociais ou civis, a provisão de direitos.

A liberdade do estado natural é tão irreal e efêmera quanto a segurança, uma mera possibilidade abstrata e não uma condição concreta. A verdadeira liberdade e segurança não se realizam naquilo que se pode ou não se pode fazer, em teoria, mas na realidade, naquilo que se têm condições de fato de fazer ou não. Segurança e liberdades reais não se produzem sozinhas, ou por normas, mas por instituições capazes de superar não apenas a brutalidade, mas os estados de insegurança e privação.  Somente em estados mais primitivos de brutalidade, a liberdade e segurança competem. Em sociedades baseadas na provisão de direitos, liberdade e segurança formam o sistema de geração de desenvolvimento humano, onde a garantia de liberdades reais produz segurança social e segurança social prevêm um novo patamar para o desenvolvimento de liberdades reais.

A segurança não é proporcional as normas que proíbem ou liberam, mas às liberdades reais que são garantidas a todos. O Estado de Paz, o fim da violência instituída, não surgirá quando banirmos as armas, mas quando estas simplesmente caírem em desuso, se tornando tão obsoletas e inúteis para os seres humanos, quanto ter presas e mandíbulas mais desenvolvidas o foram para nossos ancestrais mais primitivos.

Não teremos paz, enquanto as circunstancias usadas para justificar o uso da violência não forem extintas. Enquanto houver um único ser humano sem outras condições reais além da força bruta para prover livremente sua subsistência, não veremos um fim para a violência. Enquanto houver pessoas desprovidas das condições básicas para deixar de lutar pela sobrevivência e poder passar a competir pela riqueza. Enquanto tivermos pessoas escravizadas pela coerção ou necessidade, enquanto o trabalho for uma obrigação de tantos e não um direito de todos, não poderemos afirmar sem hipocrisia, ou ignorância de causas e consequências, que vivemos na segurança de uma sociedade humana, nem muito menos em uma sociedade livre.

A questão da Paz não se resolve pelo combate ou repressão da violência, nem muito menos pela sua cega negação, mas sim pela neutralização das fontes geradoras dos conflitos. A paz depende da progressiva erradicação das condições primitivas de perigo ou privação da vida e liberdade, da criação de estados onde exista a garantia destes direitos fundamentais a todos os indivíduos. A paz não nascerá dos sistemas de defesa, mas a partir dos sistemas de segurança social.

A Instituição dos Direitos Humanos não será constituída pelos Estados, não apenas porque os governos das Nações não detêm o poder constituinte destes direitos, mas porque somente as pessoas de um Nação, a Nação propriamente dita, em sociedade, têm o poder de fato para realizar este feito.

Estados são instituídos para proteger sociedades, e sociedades para garantir direitos. Antes de Forças armadas ou governos para atuar na exceção do estado de direito, precisamos primeiro do próprio Estado de Direitos Humanos, constituído por sociedades fundamentadas na provisão destes direitos a todos sem discriminação.

Pactos celebrados por representantes de Nações são pactos entre governos, atores políticos, cargos, não pessoas. Somente o pacto realizado entre pessoas naturais tem o poder necessário para constituir direitos de qualquer espécie, principalmente os universais. A instituição dos direitos antes de passar por papéis ou representantes precisa existir de fato nos atos que manifestam a vontade das pessoas, precisa ser real, constituídos nas bases das sociedades, presente nas relações entre as pessoas, para depois poder ser ratificada em cartas e documentos.

 Somente o pacto primordial o acordo explicito ou implícito entre pessoas que admitem, respeita e trabalha para que estes direitos sejam providos não apenas para si e seus pares, mas para todos é capaz de fundar a instituição provedora dos direitos: a sociedade.

Os direitos humanos nascerão não apenas das relações de respeito entre seres humanos, mas da ação de cada pessoa das mais diversas nacionalidades para prover esses direitos a todos os seres humanos de todas as nações, independente das distancias geográficas ou culturais que nos separem ou das diferenças entre nossas nações ou governos. Da sociedade formada não apenas da renuncia à violência, mas da renuncia à omissão perante a violência e privação do pacto social entre estas pessoas de paz para prover de fato o direito incondicional e universal à vida e à liberdade, constituir-se-á não apenas um novo estado civil, mas um estado de humanidade capaz de trazer a paz às pessoas e Nações.

Da instituição constituída por estas pessoas repletas do espírito pioneiro dos fundadores das Nações, nascerão os embriões dos sistemas de segurança social universal, os fundamentos de uma verdadeira sociedade humana, suficientemente inteligente para prover o básico a todos sem discriminação, enfim, a sociedade que será manifestação da qualidade que dá nome ao que nós somos: Humanidade.

                                                                                                     20 de Abril de 2010