Eduardo Matarazzo Suplicy
No ínício deste ano, fui procurado por Bruna Augusto Pereira e Marcus Vinicius Brancaglione dos Santos, a Presidente e o Coordenador do Instituto pela Revitalização da Cidadania, ReCivitas, uma Organização Não Governamental de Paranapiacaba, distrito de Santo André, fundada em 2006, com o objetivo de realizar ações que possam elevar o grau de cidadania dos aproximadamente 1300 habitantes locais.
Primeiro criaram uma Biblioteca Livre. Os livros doados são emprestados sem burocracia, na confiança, pelo tempo necessário para sua leitura. Hoje a Biblioteca tem 1.200 livros. Depois foi a vez da Brinquedoteca Livre, para as crianças utilizarem brinquedos emprestados. Se quebrarem é solicitado aos pais a sua reposição.
Agora Bruna e Marcos querem mais. Após assistirem uma palestra minha sobre a Renda Básica de Cidadania - RBC e lerem meus livros disseram-me que a ReCivitas gostaria de iniciar uma experiência pioneira. Para isso, foi criado um Fundo Permanente da RBC do Terceiro Setor visando viabilizar o pagamento de uma renda igual para todas as pessoas de Paranapiacaba, de início modesta mas com o tempo suficiente para atender as necessidades vitais de cada pessoa.
Ouviram-me falar da experiência pioneira que se iniciou desde janeiro de 2008 em Otjiviero/Omitara, um assentamento de 1005 habitantes da Capital Windoeck, da Namíbia, em que todas as pessoas passaram a receber uma renda básica de cem dólares da Namíbia, equivalentes a US$ 12,50 por mês. A cada seis meses seus efeitos serão cuidadosamente estudados. Foi a Coalisão pela Renda Básica da Namíbia, liderada pelo Bispo Zephania Kameeta, que levantou os fundos voluntários de pessoas físicas e jurídicas que viabilizaram esta iniciativa.
Apresentei-os ao Prefeito João Avamileno, de Santo André; ao Ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, onde estiveram com a Sub-Prefeita de Paranapiacaba. Ambos concordaram com a idéia. Em reunião realizada no Teatro União Lira Serrano, daquela vila histórica, os cerca de 450 moradores presentes ao debate também aprovaram a proposta.
O primeiro passo foi dado. Em 11 de julho, no Hotel Tryp Iguatemi by Sol Meliá, em São Paulo, que doou o espaço e ofereceu o café da manhã, foi realizada, com sucesso, uma reunião com potenciais doadores. É possível que Paranapiacaba, conforme diz a sua poeta maior, Francisca Cavalcanti de Araújo, se torne mais mágica ainda:
"Aqui a vila é mágica
A vila aparece
E desaparece
Tem dia que você vê o morro
Tem dia que você não vê nada
Parece o grande caldeirão
Que você põe para esquentar
E a fumaça vem
Para a Vila apagar
Tem bruxa no pedaço
Com sua vara de condão
E põe fogo no fogão.
A fumaça aparece
A vila desaparece
Como num passe de mágica
O morro a sumir
A fumaça a perseguir
O dia não passa
Nem as horas
Só fica a fumaça
Na cidade mágica."
Artigo será publicado na revista Revista Caros Amigos de Agosto de 2008
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